Estamos vivendo um momento em que a economia afeta a moral e
surge o que denominamos de "economia moral" que as tensões geradas
pela economia de mercado não chegam a assumir proporções explosivas. É graças
ao amortecedor da "economia moral" que os dejetos humanos gerados
pela economia de mercado não chegam a se tornar incontroláveis. Não fosse pela
intervenção corretiva, lenitiva, suavizante e compensadora da economia moral, a
economia de mercado exporia seu impulso autodestrutivo. O milagre diário da
salvação/ressurreição da economia de mercado deriva de seu fracasso em seguir
esse impulso até o fim. Admitir unicamente o homo o economicus e o homo consumens
no mundo governado pela economia de mercado incapacita um número considerável
de seres humanos para a obtenção de permissões de residência, enquanto consente
a poucos deles — se é que chega a isso — desfrutar legalmente esse direito em
qualquer época e ocasião. Poucos podem escapar da área cinzenta sem utilidade
para o mercado e que este ficaria feliz em eliminar e banir de uma vez por
todas do mundo que governa. O que do ponto de vista da conquista de mercado —
já realizada ou ainda pretendida — é representado como uma "área
cinzenta" constitui, para seus habitantes conquistados, parcialmente conquistados
ou destinados a isso, uma comunidade, um bairro, um círculo de amigos,
parceiros na vida e para a vida. Um mundo em que a solidariedade, a compaixão,
a troca, a ajuda e a simpatia mútuas (noções estranhas ao pensamento econômico
e abominadas pela prática econômica) suspendem ou afastam a escolha racional e
a busca do auto-interesse. Um mundo cujos habitantes não são nem concorrentes
nem objetos de uso e de consumo, mas colegas (ajudantes e ajudados) no esforço
contínuo e interminável de construir vidas compartilhadas e torná-las
possíveis. A necessidade de solidariedade parece suportar as agressões do
mercado e sobreviver a elas — mas não porque o mercado deixe de tentar. Onde há
necessidade há chance de lucro — e os especialistas em marketing levam sua
engenhosidade ao limite para indicar maneiras de adquirir em lojas a solidariedade,
o sorriso amigo, o convívio ou a ajuda no momento de necessidade.
Constantemente têm êxito — e constantemente fracassam. Sucedâneos
comercializados não podem substituir vínculos humanos. Em sua versão à venda,
os vínculos se transformam em mercadorias, ou seja, são transportados para um
outro domínio, governado pelo mercado, e deixam de ser os tipos de vínculo
capazes de satisfazer a necessidade de convívio e que só nesta podem ser
concebidos e mantidos vivos. Não pode ter êxito a caçada movida pelo mercado ao
capital descontrolado que se esconde na sociabilidade humana..
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