segunda-feira, 13 de outubro de 2014

NOS MEANDROS DA ECONOMIA MORAL

Estamos vivendo um momento em que a economia afeta a moral e surge o que denominamos de "economia moral" que as tensões geradas pela economia de mercado não chegam a assumir proporções explosivas. É graças ao amortecedor da "economia moral" que os dejetos humanos gerados pela economia de mercado não chegam a se tornar incontroláveis. Não fosse pela intervenção corretiva, lenitiva, suavizante e compensadora da economia moral, a economia de mercado exporia seu impulso autodestrutivo. O milagre diário da salvação/ressurreição da economia de mercado deriva de seu fracasso em seguir esse impulso até o fim. Admitir unicamente o homo o economicus e o homo consumens no mundo governado pela economia de mercado incapacita um número considerável de seres humanos para a obtenção de permissões de residência, enquanto consente a poucos deles — se é que chega a isso — desfrutar legalmente esse direito em qualquer época e ocasião. Poucos podem escapar da área cinzenta sem utilidade para o mercado e que este ficaria feliz em eliminar e banir de uma vez por todas do mundo que governa. O que do ponto de vista da conquista de mercado — já realizada ou ainda pretendida — é representado como uma "área cinzenta" constitui, para seus habitantes conquistados, parcialmente conquistados ou destinados a isso, uma comunidade, um bairro, um círculo de amigos, parceiros na vida e para a vida. Um mundo em que a solidariedade, a compaixão, a troca, a ajuda e a simpatia mútuas (noções estranhas ao pensamento econômico e abominadas pela prática econômica) suspendem ou afastam a escolha racional e a busca do auto-interesse. Um mundo cujos habitantes não são nem concorrentes nem objetos de uso e de consumo, mas colegas (ajudantes e ajudados) no esforço contínuo e interminável de construir vidas compartilhadas e torná-las possíveis. A necessidade de solidariedade parece suportar as agressões do mercado e sobreviver a elas — mas não porque o mercado deixe de tentar. Onde há necessidade há chance de lucro — e os especialistas em marketing levam sua engenhosidade ao limite para indicar maneiras de adquirir em lojas a solidariedade, o sorriso amigo, o convívio ou a ajuda no momento de necessidade. Constantemente têm êxito — e constantemente fracassam. Sucedâneos comercializados não podem substituir vínculos humanos. Em sua versão à venda, os vínculos se transformam em mercadorias, ou seja, são transportados para um outro domínio, governado pelo mercado, e deixam de ser os tipos de vínculo capazes de satisfazer a necessidade de convívio e que só nesta podem ser concebidos e mantidos vivos. Não pode ter êxito a caçada movida pelo mercado ao capital descontrolado que se esconde na sociabilidade humana.. 

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