Aquelas pessoas que
sustentam que as identidades modernas estão sendo fragmentadas argumentam que o
que aconteceu à concepção do sujeito moderno, na modernidade tardia, não foi
simplesmente sua desagregação, mas seu deslocamento. Elas descrevem esse
deslocamento através de uma série de rupturas nos discursos do conhecimento
moderno. Nesta seção, farei um rápido esboço de cinco grandes avanços na teoria social e nas ciências humanas
ocorridos no pensamento, no período da modernidade tardia (a segunda metade do
século XX), ou que sobre ele tiveram seu principal impacto, e cujo maior
efeito, argumenta-se, foi o descentramento final do sujeito cartesiano.
A primeira
descentração importante refere-se às tradições do pensamento marxista. Os
escritos de Marx pertencem, naturalmente, ao século XIX e não ao século XX. Mas
um dos modos pelos quais seu trabalho foi redescoberto e reinterpretado na
década de sessenta foi à luz da sua afirmação de que os “homens fazem a
história, mas apenas sob as condições que lhes são dadas”. Seus novos
intérpretes leram isso no sentido de que os indivíduos não poderiam de nenhuma
forma ser os “autores” ou os agentes da história, uma vez que eles podiam agir
apenas com base em condições históricas criadas por outros e sob as quais eles nasceram, utilizando os
recursos materiais e de cultura que lhes foram fornecidos por gerações
anteriores.
Eles argumentavam
que o marxismo, corretamente entendido, deslocara qualquer noção de agência
individual. O estruturalista marxista Louis Althusser (1918-1989) afirmou que, ao colocar as relações sociais (modos de produção,
exploração da força de trabalho, os circuitos do capital) e não uma noção
abstrata de homem no centro de seu sistema teórico, Marx deslocou duas
proposições-chave da filosofia moderna:
·
que
há uma essência universal de homem;
·
que
essa essência é o atributo de “cada indivíduo singular”, o qual é seu sujeito
real:
Esses dois postulados são complementares e
indissolúveis. Mas sua existência e sua unidade pressupõem toda uma perspectiva
de mundo empirista-idealista.
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