A ÉTICA E O SEU TRANSCURSO
Estarei tratando
neste ensaio, sobre a ética, que tanto é estudada, argumentada e debatida; mas
tem se esvaído pelos ares da sociedade em seus inúmeros segmentos. Tradicionalmente
ela é entendida como um estudo ou uma reflexão, científica ou filosófica, e
eventualmente até teológica, sobre os costumes ou sobre as ações humanas. Mas
também chamamos de ética a própria vida, quando conforme aos costumes
considerados corretos. A ética pode ser o estudo das ações ou dos costumes, e
pode ser a própria realização de um tipo de comportamento. Enquanto uma
reflexão científica, que tipo de ciência seria a ética? Tratando de normas de
comportamentos, deveria chamar-se uma ciência normativa. Tratando de costumes,
pareceria uma ciência descritiva. Ou seria uma ciência de tipo mais
especulativo, que tratasse, por exemplo, da questão fundamental da liberdade? As
questões da ética nos aparecem a cada dia. A partir do exemplo acima, logo
poderíamos nos perguntar se, num país capitalista, o princípio do lucro poderia
ou deveria situar-se acima ou abaixo das leis da ética. E em épocas mais
difíceis, muitas vezes nos perguntamos se uma lei injusta de um Estado
autoritário precisa ou não ser obedecida. E quando nós ternos um "problema
de consciência", quando estamos com um "sentimento de culpa",
coisa que ocorre a todos, não se torna importante saber se este sentimento
corresponde de fato a uma culpa real? Cabe à reflexão ética perguntar se o
homem pode realmente ser culpado, ou se o que existe é apenas um sentimento de
um mal-estar sem fundamento.
São diversas razões e abordagens que
englobam a ética, mas ela existe para indicar os procedimentos, que devemos
tomar em suas especificidades, nos mais diversos níveis e circunstancias. Quanto aos costumes, para partirmos do real e
não do ideal propriamente dito, é preciso reconhecer desde logo uma séria
restrição: a humanidade só reteve por escrito depoimentos sobre as normas de comportamentos
(e teorias) dos últimos milênios, embora os homens já existam há muito mais
tempo. Como se comportavam eticamente os homens das cavernas há mais de trinta
mil anos? Como era a sua ética sexual, que tipos de normas políticas vigoravam
na pré-história? É extremamente difícil dizê-lo. Mas já existiam e eram
cumpridas com cobranças diversas, que circundavam a sociedade. Max Weber,
pensador alemão do início do nosso século, mostra que esta
ética não era, em todo o caso, simples, clara e acessível a todos. Pois os
protestantes, principalmente os calvinistas, sempre valorizaram eticamente
muito mais o trabalho e a riqueza, enquanto os católicos davam um valor maior à
abnegação, ao espírito de pobreza e de sacrifício. E a diversidade simultânea
não é a única: maiores são as variações de um século para outro.
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