As
transformações histórico-sociais exigem hoje igualmente reformulações nas
doutrinas tradicionais éticas sobre o relacionamento dos pais com os filhos.
Novos problemas surgiram com a presença maior da escola e dos meios de
comunicação na vida diária dos filhos. As figuras tradicionais, paterna e
materna, não exigem hoje uma nova reflexão sobre os direitos e os deveres dos
pais e dos filhos? Em especial, a
reflexão sobre a dominação das chamadas minorias
sociais chamou a atenção para a necessidade de novas formas de relacionamento dentro do próprio casal. O feminismo, ou a
luta pela libertação da mulher, traz em si exigências éticas, que até
agora ainda não encontraram talvez as formulações adequadas, justas e
fortes. A libertação da mulher, como a
libertação de todos os grupos oprimidos, é uma exigência ética, das mais atuais. E, como lembraria Paulo
Freire, em seu Pedagogia do Oprimido, a libertação não se
dá pela simples troca de papéis: a libertação
da mulher liberta igualmente o homem.
Em relação à sociedade civil, que para Hegel também
significaria a forma histórica da sociedade burguesa, os problemas atuais
continuam os mais urgentes: referem-se ao trabalho e à propriedade. Como falar
de ética num país onde a propriedade é um privilégio tão exclusivo de poucos? E
não é um problema ético a própria falta de trabalho, o desemprego, para não
falar das formas escravizadoras do trabalho, com salários de fome, nem da
dificuldade de uma auto realização no trabalho, quando a maioria não recebe as
condições mínimas de preparação para ele, e depois não encontram, no sistema
capitalista, as mínimas oportunidades para um trabalho criativo e gratificante?
Num país de analfabetos, falar de ética é sempre pensar em revolucionar toda a
situação vigente. Assim, se é verdade que as grandes reformas de que nosso país
necessita não são questões apenas éticas, mas também políticas, o inverso não é
menos verdade: não são só políticas, são questões éticas que desafiam o nosso
sentido ético. A ética contemporânea aprendeu a preocupar-se, ao contrário das tendências privatistas
da moral, com o julgamento do sistema
econômico como um todo. O bem e o mal não existem apenas nas consciências individuais,
mas também nas próprias estruturas institucionalizadas de um sistema. Antigos
compêndios de moral, de inspiração católica, ainda afirmavam, há cinquenta
anos, por exemplo, que o socialismo seria intrinsecamente mau, enquanto o
capitalismo permitiria corrigir os seus erros eventuais. Hoje dificilmente um
livro de ética teria a coragem de fazer uma afirmação deste tipo.
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